Glórias do Passado: Mendes

 

Mendes


António Mendes, conhecido pela alcunha de “Pé Canhão”, por causa do seu forte pontapé, é indubitavelmente um dos melhores jogadores da história do Vitoria SC. Todos aqueles que tiveram o prazer de o ver jogar com a camisola vitoriana, durante as nove temporadas consecutivas que esteve em Guimarães, guardam as melhores recordações deste notabilíssimo jogador de futebol.

Historicamente assinalável é também o facto de Mendes ter sido o primeiro jogador dado Vitoria SC a tornar-se internacional A pela Selecção Nacional portuguesa. Além disso, a par de Tito, avançado vitoriano da década de 70, é um dos melhores avançados e goleadores portugueses da história da colectividade, num âmbito onde se destacam essencialmente os jogadores oriundos do Brasil.

Além dos nove anos ligado ao Vitoria SC, António Mendes representou ainda o SL Benfica - o clube onde iniciou a carreira – e alem da Selecção Nacional de Portugal realizou ainda um excelente percurso representando a nossa Selecção Militar.

António da Silva Mendes nasceu no dia 18 de Outubro de 1937 no Campo Grande, no coração da cidade de Lisboa. Esse também nessa zona da cidade que também nasceu a queda para o futebol. Juntamente com a rapaziada da sua geração intervinha com regularidade nas jogatanas realizadas nos terrenos de Alvalade e do Lumiar.

Ainda miúdo, assistia frequentemente aos treinos do Sporting CP no velho campo de futebol da CUF de Lisboa. À medida que foi crescendo e apesar do gosto pelo futebol, Mendes nunca sonhou ser jogador de futebol. Na adolescência queria ser mecânico de automóveis, tinha verdadeira paixão pelo cinema e apreciava a música ligeira. Nos jogos de futebol, na maior parte das vezes, participava sobretudo pela influencia dos amigos que nunca prescindiam do contributo do jovem Mendes.

Acabou por encarar o futebol mais a sério quando percebeu que podia ganhar uns bons trocados praticando a modalidade. Um dia, juntamente com alguns amigos, apareceu num treino de principiantes do Sporting CP. Prestou provas perante o Dr. Abrantes Mendes, responsável pelos jovens jogadores leoninos, que cedo percebeu a qualidade intrínseca de Mendes e imediatamente o convidou a jogar no Sporting CP.

Mendes aceitou imediatamente o convite. Contudo, era necessário preencher os papéis oficiais para a inscrição, que obrigatoriamente teriam de ser assinados pelo pai. Aí começava a primeira grande adversidade ao jovem Mendes. Por um lado, Mendes julgava que o pai nunca o deixaria jogar à bola, mas, além disso, tinha também o contratempo de o seu pai ser fervoroso adepto do SL Benfica.

O “puto” traquina lá convenceu a irmã a entrar numa inocente tramóia para ultrapassar o obstáculo e acabou ela por assinar em nome do pai. Tudo perfeito e Mendes podia então jogar pelo Sporting CP.

Dias mais tarde, influenciado por outro grupo de amigos, Mendes apareceu no Campo Grande para treinar numa acção de recrutamento de jovens jogadores levada a cabo, agora, pelo SL Benfica. Perante Alfredo Valadas e Francisco Ferreira, o jovem Mendes mostrou todo o seu potencial e naturalmente surgiu um novo convite para jogar oficialmente, desta feita, pelo SL Benfica.

Passou então a treinar de manha no Sporting CP, recebendo 10$ por cada treino, e da parte da tarde treinava no SL Benfica, que já pagava 25$. O apuro realizado no final do dia não podia ser desperdiçado, mas além dos pais, também os responsáveis dos dois clubes não podiam saber.

Certo dia repetiu-se a cena dos papéis, mas agora por solicitação do SL Benfica. O pai lá foi convencido e como Mendes era menor assinou e autorizou a inscrição oficial pelos encarnados.

A bomba acabou por estoirar quando os dois clubes tentaram a inscrição oficial do jogador Mendes na Associação de Futebol de Lisboa. O pai do jovem Mendes foi chamado e ficou a saber-se da tramóia engendrada pelo jogador e pela irmã. Contudo, o pai Mendes foi soberano, “António vais jogar no SL Benfica” e por esse clube foi inscrito oficialmente em 1953/54.

Nas primeiras duas temporadas integrou a equipa de principiantes do SL Benfica, vencendo dois campeonatos regionais da categoria na A.F. de Lisboa. Evidenciou-se, sobretudo pela habilidade do seu pé esquerdo, e sagrou-se consecutivamente no melhor goleador do SL Benfica.

Seguiu-se duas épocas no escalão de juniores. Neste escalão estreou-se com 17 anos de idade numa partida realizada no Campo Grande contra o SG Sacavenense, marcando logo 3 golos.

A partir daí foi um chorrilho de exibições magníficas. Venceu um Campeonato Regional da categoria numa final frente ao Sporting CP, onde Mendes foi considerado o melhor jogador. No escalão de juniores sagrou-se ainda campeão nacional depois de o SL Benfica derrotar o Leça FC por 6-0, numa final disputada na cidade de Leiria, onde Mendes voltou a ser a figura de destaque, assinando 3 golos da vitória encarnada.
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(Equipa de Juniores do SL Benfica na época de 1956/57)

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(Mendes na Selecção de Lisboa)
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Ingressou seguidamente na equipa de aspirantes do SL Benfica, um conjunto de potenciais jogadores liderados pelo técnico argentino José Valdivieso, que servia de ponte entre os escalões de formação e a equipa sénior.

Em 1957/58, pela mão de Otto Glória, subiu a primeira equipa do SL Benfica, chegando a alinhar em 5 jogos oficiais e a marcar 5 golos. Mas seria na temporada de 1958/59, a ultima época do célebre Otto Glória à frente dos encarnados, que o jovem Mendes se fixou na principal equipa do SL Benfica ao lado de José Aguas e Coluna.
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(Equipa de Reservad o SL Benfica na época de 1957/58)
. (Mendes no SL Benfica na temporada de 1958/59)
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A sua estreia no Campeonato Nacional da 1ª Divisão deu-se no desafio frente ao SCU Torreense, disputado no Estádio da Luz, em que o SL Benfica venceu por 1-0, com um golo de Mendes, como consequência de uma verdadeira bomba desferida à baliza adversária que fez, literalmente, levantar a multidão em delírio.

O SL Benfica terminou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1958/59 classificado na 2ª posição. Nesta época jogou 24 partidas oficias, 19 delas na principal competição portuguesa, tendo apontado 14 golos. Foi a melhor época de Mendes ao serviço do SL Benfica. Nesta temporada conquistou ainda a Taça de Portugal.
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(Mendes derrubado no relvado do Estádio da Luz)
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(Mendes transforma em golo esta grande penalidade)
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(Mendes em acção no SL Benfica - CF Belenenses na época de 1958/59)
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(Jogo entre o SL Benfica e o Vitoria SC no Estádio da Luz na época de 1958/59)
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Na época seguinte de 1959/60, o SL Benfica contrata o técnico Bela Guttmann e Mendes, da equipa principal, vai para as reservas. Joga a partida em Évora frente ao Lusitano GC, a contar para a 1ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, em que o SL Benfica vence por 0-3 e Mendes lesionasse e a partir de então nunca mais volta a assegurar a condição de titular.

Vai jogando frequentemente pela equipa de reservas do SL Benfica, onde venceu três campeonatos regionais consecutivos, e esporadicamente surge na equipa principal dos encarnados.
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(Mendes o n.º 10 do SL Benfica rodeado por jogadores do FC Porto)
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(SL Benfica - FC Barreirense da época de 1958/59)
. (Figura alusiva ao "Pé Canhão", no SL Benfica)
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(À frente da equipa do SL Benfica, no Estádio das Antas em 1958/59)
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É nesta altura que se evidencia uma faceta peculiar de Mendes. Revela-se pouco disciplinado, imaturo, denotando um comportamento pouco consentâneo com as exigências de um futebolista de top. Gutmann não lhe perdoa e também por isso afasta-o praticamente da equipa principal do SL Benfica.

O SL Benfica sagrou-se campeão nacional nas épocas de 1959/60 e 1960/61, mas Mendes apenas joga uma partida no primeiro ano, enquanto na segunda época jogou 3 jogos, tendo apontado 3 golos.

Pertence aos quadros do SL Benfica campeão europeu em 1960/61 e 1961/62, mas não joga em qualquer uma das competições. Vence também ao serviço dos encarnados a Taça de Portugal de 1961/62, e no Campeonato Nacional desta época jogo apenas uma partida onde aponta um golo, enquanto o SL Benfica se classifica na 3ª posição.
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(Mendes ao serviço do SL Benfica, vestido de branco)
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(Nas alturas disputando um lance no SL Benfica - FC Barreirense)
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(No banco de suplente do SL Benfica no Estádio das Antas depois de ser expulso)
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(Mendes em acção na partida contra o FC Barreirense)
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(Momento após a expulsão no jogo frente ao FC Porto na época de 1958/59)
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(Com a camisola do SL Benfica)
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(Com a comitiva do SL Benfica antes da final de Berna)
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Destaquemos também a carreira de António Mendes na Selecção Militar portuguesa, onde se sagrou campeão europeu, no maior êxito internacional da carreira do jogador. Antes disso, Mendes já tinha alinhado em 1958 pela Selecção de Promessa de Portugal numa partida frente à África do Sul, que os portugueses venceram por 3-1, com dois golos de Mendes.

Na fase final do Torneio Internacional Interselecções Militares de Países Europeus realizada em 1958 em Portugal, o avançado Mendes foi uma das peças fulcrais nas conquistas da turma lusa.

Nas meias-finais Portugal venceu facilmente a Holanda por 5-1, apontando Mendes dois golos da vitoria. Na final frente à França, jogada no Estádio de Alvalade, Portugal venceu por 2-1, numa partida muito dura e recheada de emoção, sem que Mendes tenha concretizado qualquer golo, mas onde realizou uma excelente exibição.
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(Selecção Militar de Portugal em 1958)
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(Mendes num programa desportivo de televisão)
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(Selecção Militar de Portugal 1958)
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(Mendes junto do arbitro num jogo da Selecção Militar)
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(Selecção Militar de Portugal em 1958)
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(Mendes assiste a uma defesa do guardião adversário com a camisola da Seleçcão)
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Em matéria de selecção nacional há que registar ainda a presença na Selecção A de Portugal. Em Novembro de 1966, Portugal defrontou a Suécia no Estádio Nacional numa partida a contar para a qualificação para a fase final do Campeonato da Europa.

O seleccionador nacional, Manuel de Luz Afonso, deu um lugar de titular na frente de ataque de Portugal a António Mendes, já a viver dias de glória ao serviço do Vitoria SC. Portugal acabou derrotado em casa por 1-2, na única internacionalização de Mendes pela Selecção A de Portugal.
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(Mendes com a camisola da Selecção Nacional)
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Afastado da titularidade do SL Benfica, Mendes aceitou tomar um novo rumo na sua carreira, transferindo-se para o Vitoria SC no inicio da época de 1962/63, envolvido no negocio da transferência de Pedras de Guimarães para a Luz. Era o mais renomado dos jogadores vindos do SL Benfica nessa época, mas a sua fama de indisciplinado deixava apreensivos alguns responsáveis e adeptos vitorianos.

A verdade é que pode dizer-se com suficiência que em boa hora chegou Mendes a Guimarães e ao Vitoria SC. Aqui afirmou-se como um extraordinário jogador de futebol e com isso muito ganhou o Vitoria SC ao longo dos anos em que contou com a presença de Mendes.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1962/63)
. (Mendes com a camisola do Vitoria SC)
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(Mendes na época de 1962/63, no Campo da Amorosa, vai marcar este golo do Vitoria SC frente ao SC Covilhã)
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Em Guimarães, ao serviço do Vitoria SC, o avançado Mendes viveu momentos por certo inesquecíveis, escrevendo páginas gloriosas na história do clube, razão pela qual a ligação que manteve e mantém com a cidade e as nossas gentes foi sempre tão próxima, mesmo depois de abandonar o futebol.

O Vitoria SC da época de 1962/63 é claramente uma equipa nova, formada sobretudo pela vinda de muitos jogadores do SL Benfica, entre eles, naturalmente, o avançado Mendes. É o inicio de uma geração de ouro que irá terminar com as presenças nas competições europeias de 1969/70 e 1970/71. Para treinador principal nesta temporada de 1962/63, o Vitoria SC escolheu o argentino José Valle, técnico que permanecerá em Guimarães durante 3 temporadas consecutivas e com resultados assinaláveis.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1962/63)
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(Mendes no Vitoria SC)
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No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1962/63 o Vitoria SC foi o 6º posicionado na tabela classificativa final da competição, lugar muito meritório para uma equipa praticamente nova. Nesta época, Mendes formou o sector atacante do Vitoria SC com Armando e o sensacional Lua. Ao longo da época jogou em 31 jogos oficiais (Campeonato Nacional e Taça de Portugal), marcando 14 golos. Foi o segundo melhor marcador da equipa atrás do brasileiro Lua.

O bom desempenho protagonizado pelo Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1962/63 foi todavia suplantado pela sensacional campanha realizada na Taça de Portugal, que levou o clube, pela segunda vez no seu historial, à final da competição.

Na final disputada no Estádio do Jamor frente ao Sporting CP, onde Mendes “Pé Canhão” foi titular, o Vitoria SC foi derrotado por 4-0, baqueando perante o forte poderio da fantástica equipa leonina.
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(No lotado Campo da Amorosa Mendes desfere um remate no encontro entre o Vitoria SC e o FC Porto)
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Segue-se a temporada de 1963/64. O Vitoria SC realiza uma primeira metade da época de grande nível, terminando o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na 4ª posição da classificação geral e exibindo-se com um futebol ofensivo de qualidade e extremamente eficiente.

De resto, esta toada ofensiva, mas também bastante produtiva como o números documentam, manteve-se ao longo de toda a época, de tal forma que o conjunto vimaranense foi mesmo a segunda equipa com maior número de golos marcados, à frente de FC Porto e Sporting CP, apenas suplantada pelo SL Benfica. O Vitoria SC marcou 62 golos nas 26 jornadas da competição.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1963/64)
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(Caricatura de Mendes no Vitoria SC)
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(Em plena acção mais uma vez frente ao FC Porto)
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Na equipa do Vitoria SC de 1963/64 destaca-se, na frente de ataque, o brasileiro Rodrigo, o máximo realizador da equipa com 19 tentos, mas também o 3º melhor do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Para este desempenho muito contribuiu a acção de Mendes, que entendia-se perfeitamente com o brasileiro Rodrigo.

Mendes realizou 24 jogos oficiais (Campeonato Nacional e Taça de Portugal) com a camisola do Vitoria SC nesta época de 1963/64, apontando 11 golos nas mencionadas competições nacionais. Nesta época, destaca-se ainda uma digressão do Vitoria SC aos Estados Unidos da América onde se conquistaram vários troféus.
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(Mendes no Idolos de Desporto, famosa publicação portuguesa)
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(Mendes festejando com os companheiros do Vitoria SC um golo)
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A temporada de 1964/65 marca a despedida, como recinto de jogos oficiais do Vitoria SC, do velhinho Campo da Amorosa e a estreia do novo Estádio Municipal de Guimarães. São os acontecimentos mais marcantes desta época desportiva, revelando-se passo importante no desenvolvimento e projecção do clube, que deixava assim de actuar naquela que foi a sua casa durante cerca 19 temporadas consecutivas. Com facilmente se depreende o avançado Mendes fez parte deste momento histórico do Vitoria SC.

No final do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1964/65 o Vitoria SC foi o 7º colocado e Mendes esteve mais uma vez em alto nível. Nesta competição participou em 25 jogos e marcou 8 golos, enquanto na Taça de Portugal marcou 2 golos em 6 partidas jogadas.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1964/65)
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(Disputando um lance com Simões num Vitoria SC - SL Benfica)
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(Vitoria SC - Académica de Coimbra)
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(Equipa do Vitoria SC de negro na época de 1964/65)
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(Mendes no Estádio Municipal de Guimarães num desafio frente ao SC Braga)
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(N.º 10 do Vitoria SC num encontro em Guimarães frente ao SL Benfica)
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Particularmente sensacional seria a época de 1965/66. Mendes foi a todos os níveis brilhantes. Realizou exibições memoráveis, marcou muitos golos e foi essencial no 4º lugar alcançado pelo Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Fez com o brasileiro Djalma uma dupla atacante verdadeiramente temível.

Para a nova época de 1965/66 o Vitoria SC contratou, como novo treinador, o francês Jean Luciano. O futebol apresentado pelo conjunto vimaranense era espectacular e os resultados bem consentâneos com a qualidade demonstrada pelo “team” que, de resto, só não foi mais além, devido à onda de lesões que afectou a equipa no ¾ do da competição, que obrigou ao lançamento de muitos jovens sem experiência da 1ª Divisão.

No final do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1965/66 o Vitoria SC foi o 4º colocado, igualando uma vez mais a sua melhor classificação de sempre até então, e Mendes, no auge da sua carreira, marcou 19 golos, em 23 jogos disputados, sagrando-se o melhor marcador da equipa vimaranense e o 3º melhor na prova.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1965/66)
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(Evidentes sinais de luta, Mendes apresenta-se com a camisola rasgada)
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(Em grande arrancada frente ao SC Salgueiros)
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1965/66)
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(Atingido na cabeça por um adversário do SL Benfica)
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(Mendes é o n.º 10 do Vitoria SC a apontar este livre frente ao FC Porto)
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No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada seguinte de 1966/67, o Vitoria SC ficou na 6ª posição da tabela classificativa. Mendes, em grande forma, esteve algum tempo impedido por lesão de dar o seu contributo à equipa. Ainda assim, jogou 22 jogos do Campeonato Nacional e marcou 10 golos, sagrando-se, novamente o melhor marcador da equipa do Vitoria SC. Nos números da Taça de Portugal, Mendes marcou 7 golos em 6 jogos nesta competição.

Com o final da época de 1966/67 fechou-se um ciclo de três épocas consecutivas com o francês Jean Luciano à frente do comando técnico da equipa do Vitoria de Guimarães. Para a nova temporada de 1967/68 o Vitoria SC contratou Juca para novo treinador principal.
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(Vitoria SC na época de 1966/67)
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(Mais um remate de Mendes numa execução perfeita)
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(Mendes numa acção individual frente ao Sporting CP)
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1966/67)
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(Vitor Damas na baliza do Sporting CP assiste indefeso a mais um golo de Mendes ao Serviço do Vitoria SC)
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Mendes, com 30 anos de idade, continua a ser considerado um jogador insubstituível no Vitoria SC, conforme bem provará nesta como nas épocas seguintes. Em 1967/68 jogou 30 partidas oficiais (no Campeonato Nacional e na Taça de Portugal), marcando um total de 12 golos.

Depois de alguns momentos conturbados, fruto de ausências significativas de jogadores lesionados, o Vitoria SC realizou boas exibições que o catapultaram, de novo, para um 6º lugar na classificação final do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1967/68, posição que repetia a alcançada no ano anterior.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1967/68)
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(Frente ao Vitoria de Setubal, no Estádio Municipal de Guimarães)
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(Contra a Académica de Coimbra é o n.º 10)
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A temporada seguinte de 1968/69 o Vitoria SC conseguiu no Campeonato Nacional da 1ª Divisão atingir pela primeira vez na sua história o 3º lugar na classificação final. Ainda hoje é e continua a ser a melhor classificação de sempre do Vitoria SC na principal competição portuguesa, apesar de já ter sido igualada no decorrer da década de 80, na de 90 e, mais recentemente, na época de 2007/08.

Em 1968/69 o Vitoria SC pulverizou todos os recordes que anteriormente havia alcançado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Ao longo de toda a temporada esteve sempre classificado nos lugares cimeiros da tabela geral lutando efectivamente pela conquista do título de Campeão Nacional.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1968/69)
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(Um lance no encontro entre o Vitoria SC e o FC Tirsense em 1968/69)
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Além da equipa vimaranense ter atingido um lugar no pódio na principal competição nacional, outro feito de inegável importância foi conquistado nesta temporada de 1968/69. Fruto do brilhante 3º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Vitoria SC garantiu o direito a participar pela primeira vez na sua história nas competições internacionais de clubes na temporada seguinte.

Para substituir Juca, que saiu do Vitoria SC no final da época de 1967/68, foi contratado, para a temporada de 1968/69, Jorge Vieira, um conceituadíssimo e respeitado treinador brasileiro, que já havia tido uma experiência em Portugal no comando da formação do CF Belenenses.
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(Vitoria SC - Sporting CP)
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Ofensivamente a equipa do Vitoria SC era mágica, mas acima de tudo mortífera. O Vitoria SC na época de 1968/69 foi também uma das equipas mais realizadoras do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Zézinho, Mendes e Manuel, formavam um trio de ataque demolidor, com o brasileiro Manuel e sagrar-se como o melhor marcador da equipa e o 2º melhor na prova, cuja contribuição de Mendes foi decisiva.

Em 1968/69 Mendes participou em 24 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, apontando 4 golos, enquanto na Taça de Portugal, marcou 2 golos em 6 partidas realizadas pelo Vitoria SC.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1968/69)
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(Tenta desmarcar-se a um defesa do FC Porto)
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Caracterizando Mendes, salienta-se, desde logo, a razão pela qual era conhecido por “Pé Canhão”. É que Mendes era dono de um remate fortíssimo e quase sempre bem colocado. Era um jogador muito perigoso na execução de bolas paradas ou nos remates de longa distância. Normalmente, a violência dos seus remates eram indefensáveis para qualquer guarda-redes que o viam como um verdadeiro terror.

Era, portanto, um exímio marcador de livres. Muito lutador, esforçado e generoso. Memoráveis ficaram aquelas grandes arrancadas em direcção à balizada adversária, sempre com a bola bem dominada.

Executava passes magistrais, próprios de verdadeiros fora de serie. Era um jogador magnífico, portador de faculdades futebolísticas muito raras. Tecnicista por natureza, tinha muita experiencia e o sentido exacto para escolher o melhor momento para executar o seu pontapé canhão.

Tratava a bola com encanto, pois tinha o atributo de uma excelente recepção e bom domínio da bola, em jeito de preparação para o remate, ou para uma assistência para golo, ou simplesmente – como tão bem o fazia - para tão só fazer variar o jogo, num passe longo, normalmente bem executado.

Com o passar dos anos tornou-se num jogador astuto, matreiro mesmo, e com muita intuição. Era uma presença indispensável na zona de remate, mas sabia sempre como ali surgir sem qualquer marcação. Tinha um bom poder de simulação e uma arreliadora finta curta.

Já para a parte final da carreira, algumas más exibições deviam-se à sua veterania e deficiente condição física. Não obstante, nunca deixou de ser um jogador brioso, e o seu pé esquerdo manteve inalterável na destreza e no remate.

Mas Mendes também tinha defeitos. Esses defeitos, por certo, não deixaram a sua carreira atingir um nível mundial, como todas as suas qualidades mereciam. A Mendes faltava-lhe, desde logo, alguma velocidade, poder de recuperação e antecipação. Era um jogador que não apreciava o contacto físico. E, principalmente, na fase inicial da sua carreira razões temperamentais e impulsivas cortaram-lhe a linha ascendente na sua carreira.

Por outro lado, Mendes era um jogador que precisava apresentar-se sempre em boas condições físicas, pois quando não atingia esse estado, parecia arrastar-se, literalmente, dentro do terreno de jogo.

Não era nada propenso ao jogo de cabeça e tinha o defeito de algumas vezes reter demasiadamente o jogo da equipa. Alem disso, era um jogador cujas as características não se adaptavam a rigorosos esquemas tácticos, pelo que os técnicos que melhor o conheciam optavam por lhe dar ilimitada liberdade dentro do campo.

Actuava em várias posições da frente de ataque. No Vitoria SC ele foi n.º 10, comandando o meio campo ofensivo, jogou sobre a ala esquerda, jogou mais próximo do ponta de lança como avançado centro, ou mesmo como o jogador mais adiantado da equipa, como verdadeiro finalizador.
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(Mendes no Vitoria SC)
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Na temporada seguinte, concretamente a de 1969/70, fica marcada por mais um excelente desempenho da equipa do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, mas acima de tudo, esta é a época da primeira participação do clube em provas internacionais de carácter oficial, mercê da sensacional classificação obtida na temporada transacta.

Jorge Vieira, o mentor técnico do Vitoria SC da época de 1968/69, regressou ao Brasil e o Vitoria SC de 1969/70 foi treinado inicialmente por Giba, também brasileiro, e mais tarde pelo português Fernando Caiado.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1969/70)
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(Mendes após apontar um golo ao Sporting CP)
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No final do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1969/70 o Vitoria SC foi o 5º colocado na tabela classificativa final. Mendes foi mais uma vez o melhor marcador da equipa do Vitoria SC naquela competição, apontando 11 golos em 26 jogos disputados.

O destaque nesta temporada vai também, obviamente, para a presença do clube nas competições europeias. O primeiro adversário dos vimaranenses naquela competição foi a equipa do Banik Ostrava, uma das melhores equipas do futebol da Checoslováquia, que o Vitoria SC eliminou.
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(Disputando um lance aereo frente ao CF Belenenses)
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(Mendes e Manuel pelo Vitoria SC frente ao Varzim SC)
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No jogo da 1ª mão da 1ª eliminatória, que o Vitoria SC venceu por 1-0, o avançado Mendes não foi titular, entrando somente no decorrer da partida a substituir o brasileiro Manuel. Já no jogo da 2ª mão, disputado na Checoslováquia, Mendes foi titular na equipa do Vitoria SC.

Seguiu-se como adversário do Vitoria SC na 2ª eliminatória, a equipa do Southampton FC, popularmente conhecidos pelos “Sants”, um dos mais antigos clubes do futebol inglês.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1969/70)
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(Mendes no Vitoria SC)
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No encontro da 1ª mão, disputado em Guimarães e que terminou empatado a 3-3, ficou marcado essencialmente pela gritante falta de sorte do conjunto vitoriano, que naquela partida marcou somente três golos, quando dispôs de ocasiões suficientes para marcar muitos mais, enquanto que, a formação inglesa foi bem mais eficaz, aproveitando quase todas as oportunidades que tiveram.

Mendes foi considerado nesta partida o melhor jogador em campo, tendo apontado 2 dos 3 golos apontados pelos vimaranenses.

No jogo da 2ª mão, a derrota por 5-1 em Inglaterra eliminou o Vitoria SC da Taça das Cidades com Feiras, a precursora da actual Taça Uefa.
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(Celebres jogadores do Vitoria SC, Mendes, Manuel Pinto e Peres)
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A temporada de 1970/71 foi a ultima época de Mendes ao serviço do Vitoria SC. Foi também a única que Mendes viveu dias muito difíceis no clube, com o iminente risco corrido em descer de divisão.

O Vitoria SC não promoveu – como talvez se exigiria tendo em conta a idade de alguns jogadores que compunham a espinha dorsal da equipa – a uma renovação mais profunda no seu plantel de futebol sénior.

A verdade é que um núcleo importante de jogadores da equipa principal, alguns deles verdadeiramente fulcrais, como Manuel Pinto, Joaquim Jorge, Artur, o capitão Peres, Mendes e também Daniel e o guarda-redes Roldão, vinham constituído, praticamente desde o início da década de 60, como titulares indiscutíveis.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1970/71)
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(Mendes no Vitoria SC)
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No início desta época, questionou-se fortemente a idade dos jogadores do plantel principal do Vitoria SC, alguns com mais de 30 anos de idade, e a sua capacidade de resposta para mais uma exigente temporada. Os responsáveis do Vitoria SC acreditaram, erradamente dir-se-ia depois, que aqueles poderiam responder as necessidades do clube, pelo menos durante mais uma época, não procedendo, assim, à necessária e profunda remodelação.

A verdade é que esse terá sido um factor determinante na medíocre prestação da equipa do Vitoria SC ao longo da temporada de 1970/71, que apenas garantiu a manutenção na 1ª Divisão Nacional na última jornada do Campeonato, pois os índices físicos daqueles jogadores, alguns deles titulares indiscutíveis, não eram os mais consentâneos com as aspirações do clube.

A época de 1970/71 trouxe também para Guimarães um novo treinador para a equipa principal do Vitoria SC. Na verdade, tratava-se efectivamente do regresso do brasileiro Jorge Vieira ao comando técnico da equipa.

A temporada correu muito mal ao Vitoria SC, salvando da descida de divisão apenas na partida da última jornada. Apelidou-se como um verdadeiro milagre a salvação da equipa do Vitoria SC, principalmente, quando umas semanas antes tudo parecia definitivamente perdido. Envolvidos em muita fé nas suas capacidades e no apoio das suas gentes, os jogadores do Vitoria SC conseguiram - com muito custo é verdade - garantir a manutenção e evitar o grande desgosto que seria a descida de divisão para todos os vimaranenses.
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(Mendes efectua este remate para golo frente ao Sporting CP)
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Mendes, com 33 anos de idade, denotava já uma clara ausência de frescura física e ritmo suficiente para o futebol ao mais alto nível. Em 1970/71 apenas jogou 17 jogos no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, sem ter apontado qualquer golo, tendo sido, por isso, a única época em que Mendes não marcou golos com a camisola do Vitoria SC naquela competição.

Nem tudo foi mau durante a temporada de 1970/71, pois o Vitoria SC marcou novamente presença nas competições europeias e teve uma presença meritória ultrapassando, mais uma vez, a 1ª eliminatória.

Na disputa do jogo da 1ª mão, da 1ª eliminatória da Taça das Cidades com Feira, o Vitoria SC despachou os gauleses do SC Angoulême por 3-0. Já na 2ª mão em França, o Vitoria SC sofreu a bem sofrer, sendo derrotado por 1-3, revelando-se providencial o golo apontado por Ademir logo no inicio da 2ª parte.
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(Mendes na festa de Natal do Vitoria SC)
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Na 2ª eliminatória surgiu novamente no caminho do Vitoria SC surgiu o futebol britânico, desta vez, com os escoceses do Hibernian FC. A 1ª mão, disputada no Easter Road Stadium em Edimburgo na Escócia, resultou numa derrota dos vimaranenses por 0-2. O mau resultado averbado não esmoreceu as hostes vitorianas e, na 2ª mão, o Vitoria SC até conseguiu igualar a eliminatória, mas um golo escocês deitou tudo a perder.

Terminou desta forma a campanha vitoriana pelas “europas” do futebol, de forma extremamente meritória e orgulhosa. O nome Vitoria SC apenas voltaria aos palcos europeus já no decurso da década de 80.
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(Mendes "Pé Canhão" no Vitoria SC)
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Depois dos enormes sobressaltos vividos na temporada de 1970/71, o Vitoria SC procedeu no defeso da época de 1971/72 a uma profunda revolução no quadro de jogadores do seu plantel principal. A famosa equipa vitoriana da década de 60 tinha chegado ao limite da sua capacidade, fundamentalmente, devido à veterania de alguns dos seus principais elementos.

Mendes, merecidamente, recebeu uma sentida festa de homenagem por parte do Vitoria SC, dos seus adeptos, e vimaranenses em geral, durante o mês de Junho de 1972. De então para cá esteve presente em varias iniciativas do clube, sobretudo actuando em equipas da velha guarda do Vitoria SC.
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(Mendes na festa de despedida no Vitoria SC)
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(Equipa de Velhas Guardas do Vitoria SC na decada de 70)
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(Outra equipa do Vitoria SC, em Velhas Guardas, na decada de 70)
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(Aqui na decada de 80 em outra equipa de Velhas Guardas)
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Depois de sair do Vitoria SC, Mendes abraçou a carreira de técnico e como jogador/treinador rumou ao FC Paços Ferreira em 1971/72. Posteriormente treinou o FC Felgueiras o AR S. Martinho do Campo, e nesta altura, ainda emigrou para França, onde foi ainda jogador/treinador do FC Laon.

Regressou a Portugal, ainda treinou o AD Ponte da Barca e acabou por abandonar o futebol. Trabalhou num supermercado em Odivelas e ainda num laboratório de análises. Perto dos 81 anos de idade, Mendes continua a ser um apaixonado do Vitoria SC e da cidade de Guimarães, que visita com bastante frequência e onde deixou profundas raízes.
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(António Mendes)

Autor: Alberto de Castro Abreu

Antes de mais parabéns pelo seu blogue. É um dos melhores no universo Vimaranense, é com grande emoção que relembramos grandes jogadores( ou não David Paas?!só me fazia rir) e conhecemos outros, por exemplo não conhecia o Mendes. Queria pedir se possível que relembrasse Dane, um dos ídolos da minha infância que acabou a carreira mais cedo devido a uma entrada a matar de um portista do qual não me recordo o nome. Mais uma vez parabéns e continue.
 
Pantic:

Agradeço os elogios endereçados ao blogue "Glórias do Passado". De facto, o objectivo é mesmo relembrar, alguns daqueles que representaram o Vitoria SC.

Quanto ao Dane, grandissimo jogador, merecerá, em devido tempo, como outro, uma recordação neste blogue.

Saudações Vitorianas,

Alberto de Castro Abreu
 
Vizinhos meus mais velhos naturais de Guimarães já me tinham falado do Mendes "pé canhão" como um dos melhores jogadores do Vitória de todos os tempos.Bom trabalho Alberto.
 
Ó Alberto, e pra quando a memoria ao Manuel Pinto??
 
O meu avo conhece o Sr.Mendes!!
 
para quando memorias de SILVA que fez parte dessas gandes equipas do vitoria da decada de 70 da qual faziam parte peres,mendes joaquim jorge etc.
 
Lembro-me muito bem do António Mendes o "pé-canhão". O meu pai veio para Lisboa trabalhar e no ano em que o Mendes veio para o Vitória, o meu pai falou muito com ele a descrever-lhe a cidade e a aconselhá-lo de como devia proceder num meio muito mais pequeno, que aquele a que estava habituado. Sei que o Mendes deve ter apreciado muito os seus conselhos pois durante muitos anos foi um bom amigo do meu pai. Lembro-me, por exemplo, de ir com ele ver os jogos do Vitória que se realizavam aqui na zona de Lisboa e no fim do jogo irmos falar com os jogadores e o Mendes me fazer uam grande festa.
 
Alberto Abreu, tomei conhecimento do seu blog (magnífico) pelo Desportivo de Guimarães. Parabéns pelo seu trabalho. Na biografia de Mendes falta que ele jogou no Futebol Clube de Vizela (depois de ter representado o Vitória). Em Vizela foi muito acarinhado (como o próprio reconheceu o ano passado numa visita que fez à Casa do Benfica em Vizela) quer pelos adeptos vizelenses quer pela população. Uma vez entrevistei, num escritório de contabilidade junto à igreja da Oliveira o seu colega de equipa Sá (vimaranense e velha glória do futebol) que me narrou um episódio engraçado de Mendes. Este, ao serviço do FC Vizela no extinto campo Agostinho de Lima, com o seu pé de cachão, fez um remate tão forte à baliza contrária que a bola foi embater num muro atrás da baliza e regressou ao campo com tanta força que o Mendes voltou a rematar sem a deixar cair e introduziu-a na baliza. Depois festejou e o árbitro validou o golo. Um forte abraço e mais uma vez parabéns pelo seu trabalho. Manuel Marques (www.digitaldevizela.com)
 
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